Jornalista, pesquisador, escritor e produtor musical

Waldick Soriano: dor de corno e vozeirão rascante embalaram multidões de românticos

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A maior parte da população brasileira é formada de gente muito simples – e um dos poucos prazeres que lhes resta na vida é ligar o radinho para ouvir um locutor participativo ou uma música de dor-de-corno básica, como que num alento às suas experiências sofridas de vida. E quem essa massa curte ouvir? Não é a voz de Dorival Caymmi nem de João Gilberto.
Foi num certo tempo Vicente Celestino, depois Orlando Dias, Anísio Silva, mais tarde Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Antônio Marcos, Odair José, José Augusto, depois Leandro & Leonardo e Chitãozinho & Xororó, e hoje vai por Daniel, Bruno & Marrone, sem nunca esquecer Waldick Soriano, espécie de ícone do gênero brega, que perdemos ontem.
Brega, sim senhor. E com griffe. Waldick tinha aquele seu chapéu charmoso, aqueles óculos grandes, a voz rascante do corno transtornado que, não sem razão, comovia multidões desde que começou a gravar, em 1960. Afora a obra-prima “Tortura de amor” (1962), um bolero um tanto sofisticado que já foi relido até por gente da MPB tradicional, todas as suas canções são rigorosamente iguais umas às outras. E se não forem assim pela melodia, o são pelos arranjos na linha do “chacundum”. O que vale é o clima de cabaré, são os metais e sua voz marcante pontuando tudo, como que ninando aquela multidão de românticos incuráveis que sonham com uma noite de amor bem temperada ou apenas alguns minutinhos de chamego, dançando à meia-luz num botequinho de beira de estrada com quem estiver disponível.
Waldick é o lado B do Brasil – que, em verdade, é o lado A, por sua imensa popularidade, ainda que dificilmente suas músicas cheguem às futuras gerações, pois haverá outros e bons Waldicks para cumprir este papel com o vocabulário e o ritmo da moda que peguem essa turma de jeito pelo seu ponto fraco – o coração.