Jornalista, pesquisador, escritor e produtor musical

Categoria: Opinião de Faor

O que ainda não foi dito sobre os “50 anos da bossa nova”: ela terminou, como movimento, há 40 anos

Por Rodrigo Faour

A MPB por ser tão diversa e inesgotável está sempre presente no noticiário e neste ano de 2008 só deu ela. Até um peão de obra que só ouve música sertaneja deve saber que comemoramos 50 anos da bossa nova, porque este foi, sem dúvida, o assunto musical do ano em tudo quanto foi jornal, rádio, TV e até cinema, pois houve até filme – “Os desafinados” – sobre o filão. Muito justo que num país em que sempre há queixas sobre a sua terrível falta de memória que se tenha feito uma ode a um estilo tão renovador de nosso cancioneiro, e por tabela uma boa homenagem ao nosso Rio de Janeiro, cidade sempre maravilhosa e tão sabotada por nossos governantes… Agora que já foi tão homenageada, vamos botar alguns pingos nos “is”, antes que o novo acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa também nos retire esse delicioso prazer de pingar os is. Senão vejamos…

Quem tem medo do Créu?

Por Rodrigo Faour

Eu não tenho medo, já vou avisando. E nem adianta me olharem com essa cara, dando risinhos. Sabem por que? Porque isso não vai abalar os pilares da família brasileira, nem da cultura nacional, nem da MPB propriamente dita. Bizarrices como essa Dança do Créu não são novidades em nossa música. O que vem a ser? Simples! Um sujeito magrelo cantando com voz cavernosa e anunciando “uma nova dança” em cinco velocidades, cujo o refrão é sempre o mesmo: “créééu… créééu… créééu… créééu…”. A cada velocidade, o sujeito e suas dançarinas popozudas têm que tremer mais e mais o corpo. Pode ser pior? Pode ser melhor? Gente, isso é Brasil! Você pode imaginar a Dança do Créu na Dinamarca? Na China? No Chile? Pelo bem ou pelo mal, nosso país tem excesso de testosterona e adrenalina, e as mesmas vão singrando por todos os nossos orifícios em nosso ventilador hormonal – desde os primórdios da MPB.

Carta às novas cantoras

Por Rodrigo Faour

Comecei meu interesse pela MPB por volta dos seis, sete anos de idade. Corriam os anos de 1978 e 79, quando houve um grande boom feminino em nossa música. Era uma época incrível, com uma avalanche de talentos. Todas as cantoras tinham repertório interessante e carimbo na voz. Você as ouvia no rádio e já identificava uma por uma. Ah, aos mais jovens, eventualmente desavisados, é bom que se diga que vivíamos num tempo em que não era pecado mortal ouvir grandes vozes e grandes canções nas FMs. Além do mais, não se tocava apenas pop/romântico e sambinhas lentos nas rádios que privilegiavam MPB. Ouviam-se frevos, sambões, marchas, canções de protesto, canções feministas, sensuais, pulsantes em geral… Era um bálsamo para os ouvidos e esta onda de discos ao vivo e revivals ainda não tinha nascido.